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Eles me chamam de Luana


Minha casa está sempre cheia de amigos do Pedro e da Lorena, meus filhos. Nós adoramos receber a turma e fazer bagunça. Vinícius é um dos colegas assíduos, que sempre nos surpreende com suas histórias e percepções da vida. Durante um almoço, ele, no auge dos seus 10 anos, disse que a famosa frase de René Descartes ‘penso, logo existo’ era uma sentença incompleta, já que o que nos faz existir é ter a consciência dos nossos pensamentos, conforme havia explicado Jean-Paul Sartre.


Vinícius me chama de Luana. Claro, esse é meu nome, mas quando eu era criança, nunca me referia às mães das minhas amigas pelo seu nome. Era sempre assim “...fala com a sua mãe’, “... chama a sua mãe”, “...sua mãe deixa?”. Ele não fala assim, ele se refere a mim pelo meu nome. “Pedro, chama a Luana”, “Veja com a Luana se a gente pode”. Intrigada, perguntei ao meu filho como ele se referia às mães dos amigos e, para completar minha estranheza, ele fazia como o amigo. “Uai, mamãe, falo Cássia, Cibele, Elisa, Sarah…”


Nessa hora meu coração se encheu de esperança porque uma sinapse reveladora aconteceu! A minha hipótese é que essa geração entende que as mães não são só mães, que elas são o que quiserem ser (não que antes não fossem, mas a gente sabe a pressão que as mulheres sentiam - e sentem - para serem pregadas no lugar de mãe). Eu sou Luana, mãe do Pedro e da Lorena, sou também mulher, profissional, amiga, filha, irmã, sou antes de tudo alma e espírito.


Talvez, as crianças saibam que as mães de hoje estão mais conectadas à completude dessa jornada na Terra. Ela é sobre ter filhos, mas também é sobre ser sozinha, é sobre encontrar seu propósito, sobre se realizar consigo mesma (e, inclusive, não deixar essa expectativa para os filhos).


Talvez, os pequenos de hoje não saibam explicar porque, no passado, a gente não se referia às mães pelo nome. Talvez, para eles, nem faça sentido a ideia de que mães só podiam ser mães.


Talvez, eu, mais que ninguém, precisasse escrever esse texto para reforçar em mim o CONTRÁRIO do que a sociedade patriarcal diz desde que o mundo é mundo (e a todo tempo): eu amo ser a mãe do Pedro e da Lorena, eles são minhas prioridades, mas eu sou a Luana.


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