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A Fogueira Moderna - Dia Internacional da Mulher




(fatos recentemente compartilhados comigo, com nomes alterados)

1- Joana chega ao trabalho com a esperança de, finalmente, ser promovida. Não foi dessa vez, pois disseram que ela tem 2 filhos e não conseguiria assumir a posição.

2- Fabíola chega do supermercado e reclama com o marido que todas as luzes da casa estavam acesas. Ele diz que ela deveria ter apagado antes de sair.

3- Patrícia está no banheiro e os filhos chamam por ela. Ela pede para que falem com o pai. Ao chegar à cozinha, Patrícia leva um tapa na cara do marido.

4- Laura vai ao carnaval, se esquiva de cantadas e prefere não se envolver com ninguém. É chamada de frígida por um homem que se interessou por ela.


O que essas histórias têm em comum? Em todos os casos, o problema ou a responsabilidade são direcionados para a mulher, e a isenção é privilégio do homem! É como se nada que fizéssemos, quiséssemos ou falássemos tivesse legitimidade, porque precisa passar pelo ponto de vista do homem.


Por detrás desses comportamentos (citados acima), estão mensagens implícitas como:

1- Você precisa cuidar dos filhos e não terá a disponibilidade que um homem tem.

2- A responsabilidade por todas as demandas da casa é sua.

3- A criação dos filhos é da conta da mulher e não ouse envolver o pai.

4- Se uma mulher não quer um homem, ela tem algum problema.


E, assim, os homens (alguns conscientes, outros não) continuam nos queimando, de forma às vezes velada, às vezes, e infelizmente, explícita. A fogueira, antes comum na época da inquisição, que era punição para as mulheres com conhecimentos sobre a natureza, que usavam receitas para cura e benzeção, que sangravam mensalmente, que sofriam aborto ou que não desejavam se casar, não pode mais existir. Mas, ela continua queimando em nós, de forma diferente.


Não sentimos o fogo na pele, mas as palavras de abuso, a agressão física, a privação financeira, a solidão no cuidado e a isenção nas relações nos fazem queimar o corpo, e nos despertam os piores sentimentos. Vale destacar que muitas vezes, ainda morremos também. No Brasil, 4 de nós são mortas, por dia, pelo feminicídio.


Somos jogadas nessa fogueira porque a noção de que a mulher deve servir e cuidar, amar e ser pura, ser fiel e subserviente, a ideia de que somos frágeis, sensíveis e insuficientes, já está tão enraizada nas relações, que nos queimam simplesmente por manifestarmos a ideia de querer ser diferentes ao que nos é imposto.


Mas, calma. Finalmente, as histórias de vida das nossas bisavós e avós estão reverberando em nós de forma irreversível, criando possibilidades impensáveis para a geração de 50 anos atrás. Estamos desejando e realizando ser quem somos, estamos nos posicionando - seja na poltrona de casa, seja na cadeira da empresa. E estamos só começando.


Então, se hoje é dia de parabenizar as mulheres, que seja pela coragem de serem legítimas e de combaterem o patriarcado - que adoece a todos, homens e mulheres, e traz prejuízos sociais globais. Por isso, podem retirar a lenha da fogueira porque estamos e estaremos nos espaços que quisermos. Sempre e pra sempre!


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